domingo, 26 de agosto de 2012

RETÃ PORÃ: O ESPAÇO SAGRADO


       Awaju Poty omombeu:
          Todo tempo e todo espaço é sagrado quando consagramos nossas vidas. Porém, sempre há um lugar ou um tempo que é especialmente sagrado para cada um de nós. O meu espaço/tempo sagrado, por excelência, é o Tekowa, a minha aldeia; ou, qualquer outro Tekowa Ñandewa Guarani, ou seja, o território onde vivemos a nossa maneira de ser em plenitude. E, o coração do meu espaço sagrado é o Tata Portã do Opy, a casa de reza/meditação/dança; mas também o Ma’ety, lugar onde esta o desenho de plantio do Awaxy, o milho sagrado e as plantas sagradas.
          Porém nos últimos tempos tenho viajado muito, dando recitais de canto e harpa Guarani. E aprendi a criar o meu espaço sagrado em qualquer circunstância. Muitas vezes faço isso em um quarto de hotel.
          Em um quarto de hotel não posso acender um Tata Porã, fogo sagrado, então acendo um Tataendy, uma vela. Não posso acender o Petyngua, o cachimbo, então acendo um incenso. Sento em meu Apyka, meu Apyka é uma pele de cordeiro que me foi ofertada por meus irum, irmãos do Uruguai. Quando estou com a harpa, toco e canto; toco a harpa e canto baixinho para não incomodar os outros hóspedes; quando não estou com a harpa, toco o berimbau, monocórdio.
          Quando canto um Mborai, evoco o sagrado, então o tempo e o espaço se tornam para mim sagrado; mesmo no caso de ser um quarto de hotel ou um teatro. No caso do teatro, para muitas das pessoas que me assistem aquele é o momento de um recital, para mim, um Ara Porã, um momento sagrado.
          Há ocasiões em que não posso fazer nenhum ritual, nenhuma cerimônia e, nem cantar ou tocar, como por exemplo, dentro de um avião; nesse caso apenas respiro silenciosamente o nome evocativo de um Mboruwyxawete, espírito ou anjo, força telúrica, numinosa que me coloca em uma dimensão tempo/espacial sagrada.
          Assim, diria que espaço sagrado e, tempo sagrado é algo que desfruto com prazer infindo e que é tudo quanto necessito. Então, tudo e, qualquer lugar se torna sagrado; em última instância, quase tudo se torna um deleite continuo e crescente todo o tempo e em qualquer lugar. Isto foi o que aprendi nas circunstâncias em que Ñamandu, a “natureza de todos os mundos”, me colocou.

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