Awaju Poty omombeu:
Todo tempo e
todo espaço é sagrado quando consagramos nossas vidas. Porém, sempre há um
lugar ou um tempo que é especialmente sagrado para cada um de nós. O meu
espaço/tempo sagrado, por excelência, é o Tekowa, a minha aldeia; ou, qualquer
outro Tekowa Ñandewa Guarani, ou seja, o território onde vivemos a nossa
maneira de ser em plenitude. E, o coração do meu espaço sagrado é o Tata Portã
do Opy, a casa de reza/meditação/dança; mas também o Ma’ety, lugar onde esta o
desenho de plantio do Awaxy, o milho sagrado e as plantas sagradas.
Porém nos
últimos tempos tenho viajado muito, dando recitais de canto e harpa Guarani. E
aprendi a criar o meu espaço sagrado em qualquer circunstância. Muitas vezes
faço isso em um quarto de hotel.
Em um quarto
de hotel não posso acender um Tata Porã, fogo sagrado, então acendo um
Tataendy, uma vela. Não posso acender o Petyngua, o cachimbo, então acendo um
incenso. Sento em meu Apyka, meu Apyka é uma pele de cordeiro que me foi
ofertada por meus irum, irmãos do Uruguai. Quando estou com a harpa, toco e canto;
toco a harpa e canto baixinho para não incomodar os outros hóspedes; quando não
estou com a harpa, toco o berimbau, monocórdio.
Quando canto
um Mborai, evoco o sagrado, então o tempo e o espaço se tornam para mim
sagrado; mesmo no caso de ser um quarto de hotel ou um teatro. No caso do
teatro, para muitas das pessoas que me assistem aquele é o momento de um
recital, para mim, um Ara Porã, um momento sagrado.
Há ocasiões
em que não posso fazer nenhum ritual, nenhuma cerimônia e, nem cantar ou tocar,
como por exemplo, dentro de um avião; nesse caso apenas respiro silenciosamente
o nome evocativo de um Mboruwyxawete, espírito ou anjo, força telúrica,
numinosa que me coloca em uma dimensão tempo/espacial sagrada.
Assim, diria
que espaço sagrado e, tempo sagrado é algo que desfruto com prazer infindo e
que é tudo quanto necessito. Então, tudo e, qualquer lugar se torna sagrado; em
última instância, quase tudo se torna um deleite continuo e crescente todo o
tempo e em qualquer lugar. Isto foi o que aprendi nas circunstâncias em que
Ñamandu, a “natureza de todos os mundos”, me colocou.
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