sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

"Kwaray ou Ague" – Kwaray veio neste mundo

Awaju Poty -  Omombeu:

 

            "Ñamandu mandou para o mundo uma alma para um homem (ywyraija), e uma alma para uma mulher (kunhã karai). Depois a mulher concebeu a criança e recebeu do ywyraija a  alma da criança. E o pai já sabia qual era a alma (nhee porã) da criança.

            (Isto aconteceu antigamente, antes do dilúvio).

            O pai da criança foi para outro lugar. E o pai da criança falou para a mulher: - eu vou para outro lugar. O dia que você quiser ir atrás de mim, você irá. Em cada encruzilhada eu deixarei uma pena preta de galinha (urui). Onde não houver pena de urui você não seguirá. Então o homem seguiu o seu caminho. Quando caminhava, nas clareiras do caminho ele deixava a pena de urui. O pai da criança sempre seguiu um caminho reto (sem curva), mas era um caminho estreito.

            Depois, a mãe do Kwaray ( Kwaray era a criança que estava em seu ventre) seguiu o caminho. Então, em cada encruzilhada ela perguntava para seu filho e Kwaray respondia: - Vamos seguir o caminho reto. Então a mãe seguia o caminho reto.

            Em cada encruzilhada havia flores bonitas. Em cada encruzilhada havia flores amarelas (potyju), e a criança gostava. Quando Kwaray via as flores amarelas ele dizia à sua mãe: - "Pega elas para mim. E sempre a mãe pegava.

            Num momento em que ela estava apanhando as flores, um marimbondo (mamanga) deu uma ferroada na mão da mãe de kwaray. De tanta dor, ela balançava a mão, e sua mão bateu na sua barriga e machucou a criança. Ela fez isto sem querer mas ela sabia que a criança estava em seu ventre. Depois disto a dor já tinha passado. E ela começou a andar de novo, para frente. Depois, continuando a caminhar, chegou em outra encruzilhada. E começou a falar com seu filho de novo, perguntando: - Para onde nós vamos?

            Mas a criança não respondia (não dava a voz), nem se mexia mais. Ela perguntou três vezes e nas três vezes a criança não respondeu. Então a mãe seguiu. Mas não sabia para onde ir nem qual estrada devia seguir. Então começou a seguir o caminho que aparecia primeiro, não seguiu mais reto. Depois ela chegou numa casa onde havia uma velhinha. A velhinha disse: - Ah! Minha filha porque você veio? Este caminho é perigoso, mas mesmo assim você o seguiu. Meus filhos são maus, mas como você conseguiu chegar, eu vou te ajudar a escapar. Meus filhos vão chegar. Se meus filhos chegarem eles vão saber.

            (Isto aconteceu antes do dilúvio. Estes animais são as onças e vivem no mato. E foi  a onça que matou a mãe de Kwaray).

            Depois os filhos da onça velhinha chegaram. Quando vinham pelo caminho só se via onça (xiwy). Eles chegaram na  casa e sentindo o cheiro da kunhã disseram para sua mãe: - Você caçou, mas como você conseguiu esconder?

            Ela falou para os filhos: - Mas como eu ia conseguir? Vocês já sabem que eu sou uma velha e não tenho mais força para isso.

            Enquanto eles falavam assim, a mãe de Kwaray estava escondida embaixo de um caldeirão feito de barro. Então, mesmo assim, os filhos não acreditavam e queriam saber de onde vinha o cheiro. E procuravam por tudo, revirando todas as coisas.

            Enquanto isto, o mais velho não tinha chegado ainda. Ele era o mais forte de todos. E ao chegar, revirou tudo também. E quando ele saiu de dentro da casa ele viu o caldeirão virado de boca para baixo. De raiva ele chutou com força o caldeirão e assim ele matou a mãe de Kwaray.

            Então a mãe das onças falou aos filhos: - Já que vocês mataram a mulher vocês deixam o feto para mim. Então os filhos deram o feto para a mãe deles.

            A velhinha comeu a placenta. Ela jogava tudo na brasa (tatapy). Tudo o que era para comer ela comeu. E o que era a criança (o que era Kwaray) ela não comia. E a criança (Kwaray) sempre "pulava" do fogo. Então a velha disse: - Eu deixarei a criança em cima do fogo para secar.

            E quando a criança desceu de cima do fogo, a avó onça disse: - Minha avó, faz um arco e uma flecha para mim. E a velha assim fez.

            Com o arco e a flecha Kwaray saiu para o mato. Ele ia longe. Quando ele vinha do mato, ele trazia sempre bastante pássaros. E ele sempre fazia isso. Sempre ia no mato e trazia bastante passarinho. A velhinha sempre falava para ele não ir par Nhandekere (lado do braço direito) onde existia ka'aguy owy (mato verde) e, por isso, havia muito marimbondo (mamanga). Neste lugar havia o papagaio que sabia do acontecido.

            Um dia, Kwaray foi para este lugar. Ele estava no mato, e apontou a flecha para o papagaio e o papagaio falou: - Mas como você vai fazer isto?, você está fazendo assim, matando todos os passarinhos e levando para sua avó que matou a sua mãe.

            Então Kwaray voltou chorando e ficou com os olhos vermelhos: - Como, então foi assim? E quando ele chegou na casa da sua avó, a velha disse para ele: - O que aconteceu? Porque você não me trouxe mais os passarinhos? E Kwaray respondeu: - porque os marimbondos me aferroaram e mostrou seus olhos vermelhos. Depois disso ele continuava chorando. Até que sua avó perguntou: Por que você não vai mais caçar passarinho  para mim? E Kwaray respondia: Porque meus olhos ainda estão doendo.

            Depois de tudo, ele pensava. Já que minha mãe foi morta por eles eu procurarei pelos ossos (kangue) da minha mãe.

            Então juntou todos os ossos de sua mãe. E levou para o mato. E não demorou para que Kwaray gerasse dos ossos de sua mãe, o seu irmão. E este irmão vai ser Jaxy (a Lua).

            Dos ossos que ainda sobraram, Kwaray tentou gerar sua mãe de novo. Mas ele não conseguia. Pois quando a mãe deles estava quase pronta, Jaxy chamava por ela querendo mamar em sua mãe. E então toda vez ela se desfazia, porque ela não tinha o tempo para descansar, para se completar, para Ter a iluminação, para viver novamente.

            Kwaray tentou três vezes. Mas não conseguiu. Então, com raiva pensou em acabar com as onças.

            Kwaray e Jaxy sempre viviam juntos. Jaxy e Kwaray sempre andavam com arco e flecha e sempre viviam juntos. Depois de muitos anos, Kwaray e Jaxy já não tinham mais vontade de viver aqui no mundo. Kwaray não queria viver mais no mundo. Então ele disse para seu irmão Jaxy: - Vamos fazer assim. Vamos pegar todas as onças, vamos atrair os bichos (as onças) até onde há um rio que esta cheio de yypo (lontra, ariranha). Vamos fazer uma ponte (yyryvovõ), bem comprida. (A ponte era de taquara).

            Quando eles terminaram de fazer esta ponte, Kwaray e Jaxy foram na casa da velhinha e disseram: - Vamos, todo mundo, buscar carne de tapii (anta). Então eles foram.

            E Kwaray disse para Jaxy: - Quando todos estiverem no meio da ponte você solta a ponte e todos cairão. E não deixe nenhum escapar. Kwaray disse para Jaxy:  - Você vai atrás. Eu vou na frente. Depois que eu atravessar o rio, do outro lado do rio, darei o sinal. Quando eu der o sinal, você solta a ponte.

            Kwaray lá estava do outro lado da ponte. Enquanto isso, as onças estavam começando a passar. Quando todas as onças estavam no meio da ponte, havia uma que ainda estava entrando na ponte. Kwaray  olhou para ver se todos já estavam no meio e, naquela hora, a última onça, que estava grávida, estava começando a entrar na ponte. Kwaray olhou para o lado onde estava Jaxy. Ele olhou só para ver se estava tudo bem. Mas Jaxy pensou que Kwaray estava dando o sinal. Jaxy soltou a ponte. Então de repente aquela onça que estava grávida pulou para fora da ponte e se salvou.

            Então Kwaray disse para Jaxy: - Eu ia dar o sinal. Mas esta bem. Eu ia acabar com todos eles. Mas assim esta bem. Então kwaray disse para Jaxy: - Agora vamos Ter que fazer a caminhada. Vamos pela beirada do rio. Então eles foram. Eles foram longe e viram um pescador sentado na beira do rio. Era Anhã. (Isto foi antes do dilúvio).

            Kwaray quis enganar Anhã. Então Kwaray foi por baixo da água. Ele foi com um galho de árvore e prendeu no anzol de Anhã para fingir que o peixe estava puxando o anzol. Kwaray fez assim. Depois Kwaray saiu da água e, então, Jaxy falou: - Já que você enganou Anhã, eu também quero enganar. Pois Kwaray falou:  - Você não pega o anzol, você finge que o peixe esta puxando o anzol.

            E Jaxy falou: - Vou fazer assim. Foi e mergulhou em direção do anzol. Mas ele já fez de outro jeito. Então, ele pôs o anzol na boca. E Anhã na primeira puxada, já tirou Jaxy.

            Anhã foi o primeiro pescador. E o primeiro peixe que ele pescou foi Jaxy. Então Jaxy fez também o bem porque senão não existiria a pesca. E até hoje é assim. Todos os pescadores pegam peixe, por causa de Jaxy.

             Depois disso Kwaray foi falar com Anhã. E Kwaray falou para que ele não mastigasse os ossos de seu irmão.

            Então Anhã obedeceu. E comeu toda a carne de Jaxy e deixou os ossos.

            Depois disso, Kwaray recolheu todos os ossos de Jaxy e levou com ele para que depois Jaxy pudesse ser gerado de novo.

            E Kwaray gerou Jaxy de novo dos próprios ossos de Jaxy.

            E dali seguiram de novo, juntos.

            Kwaray e Jaxy chegaram no meio do mundo (ywymbyte). Eles estavam indo em direção a Tupã Retã. E ali eles esperaram um pouco. Por isso, em cada meio dia, o sol para um pouco porque eles descansaram em ara mbyte.

            Kwaray diz para seu irmão: - Vamos ver quem consegue alcançar arai owy (o azul do céu, a parte mais distante do céu) com a flecha.

            Kwaray atirou a flecha para cima e a flecha alcançou arai owy.

            Jaxy, seu irmão, também jogou a flecha para cima. Mas sua flecha não alcançou arai owy. Só alcançou as nuvens, arai xii (as nuvens brancas, que ficam mais próximas).

            Kwaray jogou a flecha três vezes e sempre a flecha alcançava arai owy. E cada flecha que arai owy levava, ela abaixava, descia na direção de Kwaray.

            Jaxy também deu três flechadas, mas só alcançava arai xii.

            E Jaxy alcançava sempre arai xii. E a cada flechada de Jaxy, arai xii também descia um pouco.

            Kwaray sempre foi o primeiro. Sempre alcançou ara owy, que vai ser o seu lugar, Kwaray amba.

            Jaxy foi também para arai, mas não alcançou o lugar de Kwaray. Ele ficou em ara xii, que vai ser o seu lugar, Jaxy amba.

            Kwaray diz para o seu pai: - Eu vou iluminar, clarear o mundo para nossos filhos caçulas.

            Jaxy diz para seu pai: - Eu vou iluminar, clarear a noite, a escuridão. Em quatro semanas, irundy ara, eu estarei clareando a noite.

            (Kwaray nunca vai se acabar. Ele vai clarear o dia e o mundo. Ele nunca terá preguiça.

            Jaxy já não é como o sol. Quando é lua nova nós não vemos a lua. Quando Jaxy esta um pouco mais alto podemos ver, mas ainda não há luz. E assim a lua vai clareando, cada vez mais forte.

            Quando termina de clarear a noite, Jaxy desaparece. É quando Kwaray brilha no zênite.

           

3 comentários:

Anônimo disse...

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Unknown disse...

Awaju Poty: había solicitado la interpretación de "Y y arandu", pero he conseguido la letra y la traducción así es que muchas gracias. Bendiciones.
Doris

Wya Poty disse...

Awaju Poty: Fique maravilhada do estilo e do coraçao da sua mulher, esteve com ela no encontro das cunhas na Aiguá-Uruguay. Ainda sento as vibraçoes na minha alma, sento que alguma coisa mudó profundamente no meu interior.
Muito brigada, de mais esta disser que a presença sua estive com nos todo o tempo!!! abrazo de luz pra vocês!!!